quarta-feira, 11 de junho de 2014

COMO SURGIU O MOVIMENTO GARAGEM DO ROCK



Rock em União: Como surgiu a garagem do rock?

Anderson: Tudo começou com o réveillon rock. Eu e Elson tínhamos conhecido o Waltinho, Bruno, Miguel, Wagner... e conversando resolvemos fazer uma festa e fizemos o Réveillon Rock que foi o lance em que cada um que tinha uma caixinha de som ou até o som de casa mesmo, não era amplificada pois ninguém até então tinha uma e fizemos a festa assim mesmo com muita precariedade  mas com muita força de vontade e deu certo.
Depois desse evento ficou martelando em minha cabeça que tínhamos que fazer um evento, e também descobrimos que podíamos animar um evento sem precisar de uma estrutura de som legal, algo underground mesmo. Até então a Escrúpulo só havia tocado em eventos realizados pela secretaria de cultura ou de estilos diversos, nada focado no Rock propriamente dito.

Rock em União:Esse evento réveillon a ideia foi sua?

Anderson: Não, esse vento surgiu depois de conversas entre amigos e não teve um cabeça, a ideia era fazermos um evento com a nossa cara para celebrarmos o final do ano,tinha uma galera surgindo na Cohab também então nos juntamos e corremos atrás e realizamos. Nesse momento tinha uma galera nova querendo curtir e todos foram convidados, fizemos e deu certo, mesmo com um som onde não tinha como entender muita coisa, mas era tudo novo pra gente e foi como se fosse a melhor festa do mundo, todas as bandas reunidas e uma galera que tava ali porque curtia o que estava sendo feito.

Rock em União: E como surgiu o nome garagem do rock?

Anderson: Essa ideia de fazer um evento martelava em minha cabeça foi quando a ficha caiu. Nós podemos fazer um movimento com as próprias caixas som em um lugar pequeno igual ao réveillon e fazer com que o movimento continuasse. Depois de ter conversado com o bruno, voltando para a minha residência vi uma garagem aberta e falei, o lugar é esse, temos que fazer a festa aqui. A noite reunido com os amigos próximo ao aquarius falei que tinha encontrado o local e todos gostaram da ideia, pronto só faltava o nome do evento. Mais tarde na trevo variedades onde hoje é farmácia mais por menos o boato sobre um suposto evento já estava espalhado foi ai que Joninhas Mitomari falou "oxe numa garagem? E então GARAGEM DO ROCK".

Rock em União: Essa primeira edição da Garagem do Rock você sentiu que surtiu o efeito esperado ou superou o réveillon?

Anderson: Superou, nessa primeira Garagem do Rock a gente quis fazer algo parecido que o réveillon que era a união da galera pra fazer a força, cada um levar um pouco que você tinha pra quando juntar o pouquinho de todo mundo dar pra montar a estrutura que agente queria só que tentando evoluir um pouco mais. Nos juntamos e fomos falar com Francisco Vianna que era Secretario de educação da época e ele liberou um palco de madeira que tinha do Colégio Santa Maria que pra montar era nos pregos, aí juntamos um dinheirinho pra mandar montar. Começamos a divulgar o garagem do rock, nesse período eu já tinha comprado uma caixa amplificada e já aumentou a potência do som, até então não existia nenhum movimento rock n’ roll dentro de união e também o rock não era considerado musica em união para os leigos, pois já tinha alguns adeptos do rock em união. E no dia do evento deu uma galera massa, e percebemos que aquilo era um movimento underground um rock n’ roll de verdade acontecendo em nossa cidade.  A Garagem do Rock fez sucesso por que houve uma união das tribos, tinha o reggae, o hip hop, rock, pop rock e MPB com voz e violão, tinha banda de trash metal, banda com influencia punk e até bandas com influências confusas como era o caso da CAF (Coisas de Asas Fecais).

Rock em União:Você sentiu que o garagem do rock deu uma sacudida na população palmarina que até então não conhecia o rock n’ roll?

Anderson: Sim, completamente. Existe o antes e o pós Garagem do Rock, como eu tava falando o movimento abriu um espaço para que a população conhecesse, muita gente curioso passava e olhava aquele som  lá dentro daquela garagem e queria saber o que era e acabava entrando, quando entrava via a galera pulando e se divertindo e viu que o negocio era animado e ficava cobrando já o próximo, eram adultos, jovens e crianças todos unidos por um movimento. E também a gente quis levar o conhecimento a população fomos as rádios, carro de som para mostrar que nós existíamos e que estávamos aqui. Fizemos os cartazes na base da xerox, de uma forma que o pessoal daqui não tava acostumado com aquele tipo de marketing, era o bruno que fazia manualmente ou no computador e tirávamos xerox, e no valor em de colocar 2 reais colocamos 2 contos e aquilo despertava a curiosidade e quem via achava uma ortografia descontraída totalmente alternativa e saíamos colando pela cidade. Nós queríamos mostrar que estávamos vivos e que isso existe aqui também. Fazíamos divulgação em rádios, jornais locais com muita dificuldade, porque naquela época não tinha esse facilidade que tem hoje, nós não tínhamos internet, tão pouco redes sociais.

Rock em União:Existe uma matéria sobre a escrúpulo no jornal Gazeta de Alagoas?

Anderson: Sim, teve duas ocasiões. A primeira foi no lançamento do cd da escrúpulo em 2005, quando nós estávamos lançando o cd eu mandamos email e mensagens pra tudo quanto era jornal, televisão, para informar o lançamento do CD ,aí a TV gazeta entrou em contato e teve também a matéria no AL TV 1ª edição. Tudo porque fazíamos questão de mostrar ao povo que nós existíamos e que o nosso rock n’ roll tem um conteúdo e algo a ser dito. Depois disso tiveram várias outras aparições em TV's e Jornais impressos e Sites.

Rock em União: A Garagem do Rock teve uma forte influência para as bandas que surgiram naquela época?

Anderson:Sim, porque muitos que estavam ali pensavam: Pô se eles conseguem eu também consigo, vou tentar. E ai formavam os grupos e nos mostravam, e entravam na programação. A Garagem tinha uma evolução do som, no inicio abria com voz e violão, depois entrava o hip hop do união D’mcs, então entravam as bandas de rock e Reggae, e essa diversificação era que agradava ao publico.

Rock em União: E como surgiu intercambio com bandas de outras cidades para tocar na garagem?

Anderson: Se não me falhe a memória a primeira banda de fora a tocar foi a isteria. Bem, os primeiros contatos foi com o Hermam, que os avós dele são daqui de união e vinham visitar e era nosso amigo e que também tinha uma banda, ai chamamos ele pra tocar e também tinha os meninos que estudavam no CEFET, hoje o IFAL e tinha contato com os caras de lá que também tinham bandas. E falávamos olha temos um evento em união, você querem tocar lá não? Até porque não tinha a facilidade de internet. 2001, 2002,2003 o que era que agente fazia pra entrar na internet? nós locávamos uma lan house de um amigo para entrar a noite e no fim de semanas, eu, Bruno, Elson, Walter Jr... e fazíamos uma cotinha pra pagar a hora lan house nesses horários pra entrar na net a noite com ele era conhecido nosso ele liberava a chave, por que a internet era de pulso só poderíamos acessar nesses horários e agente só conseguia entrar assim, não existia as redes sociais, o que existia era o bate papo da UOL. E nós achávamos o Maximo. Eu lembro que tinha uma galera que se reunia no shopping  que curtia rock e ficávamos comentando que a gente tem que ir lá conhecer essa galera pra trocar ideias e se antenar com o que estava acontecendo fora daqui de nossa cidade.

Rock em União:Quantas edições da garagem foram realizadas?

Anderson: Sete edições oficiais e uma pirata

Rock em União:Quais os motivos que levaram a garagem do rock enfraquecer até chegar ao fim?

Anderson: É assim, tudo que cresce e se você não tiver uma mente organizada um dia vira bagunça. Éramosjovens e alguns não acompanharam a evolução do movimento ou começou a ter pensamentos contrários, a garagem foi crescendo numa proporção onde as pessoas, os organizadores, alguns foram querendo tomar rumos diferentes e foi rolando os atritos, as ideias estavam sempre divergindo, e com essas divergências de pensamentos  acabou que o clima não estava muito bom. Alguns saíram do movimento outros foram morar em Maceió, só sei que no final sobraram eu, Waltinho e Wagner. O Wagner foi morar em Maceió e Waltinho ficou aqui sem ânimo com a questão de produção, quem tava querendo correr atrás mesmo só eu, inclusive eu lembro que em 2006 que foi o ultimo garagem, foi aí que eu falei com Waltinho que aqui tava parado e já tinha um ano sem fazer nenhuma edição e eu estava querendo fazer algo, e ai vamos voltar ou libera pra me fazer, ai ele falou por mim tudo bem num tem problema nenhum, ai liguei pra Wagner, só que ele não autorizou que eu fizesse sozinho e eu querendo que o movimento andasse e como era fundador do evento junto com eles e só um não estava autorizando então eu resolvi piratear o nome por uma boa causa, mudei o nome para um parecido, porque era uma coisa eu batalhei desde o começo e estava querendo que o negócio continuasse, até porque o movimento tinha dado uma esfriada de banda e de publico, o clima do rock estava em baixa aqui e eu querendo ver se reanimava e fiz a Garagem Rock só ,  tirei o “DO” lá  no espaço alternativo, um espaço que existia em frente ao Colégio Mário Gomes. E foi quando mais uma vez dei uma esfriada, o evento foi bom mas o próprio movimento não estava querendo se ajudar. por que a galera ficava do lado de fora esperando ser liberado para poder entrar de graça, não é justo você fazer uma correria danada pra organizar um evento e o pessoal ficar do lado fora porque não quer pagar R$ 3,00 reais que seria revertido pra pagar as despesas do even
to . E que me deixa mais puto ainda hoje é que a galera que fica lá na frente sem querer pagar os R$ 3 ou 5 reais e são os mesmo que pagam R$ 50,00 reais pra comprar uma camisa de bloco.

Rock em União:Você ver ainda a possibilidade de acontecer eventos com essa galera nova ou o rock esta instável aqui em união?

Anderson:O Rock esta instável. O que é que acontece hoje em dia? O que está faltando é a galera de hoje ter a força de vontade que o pessoal das antigas tinha de querer fazer e acontecer. O que eu vejo hoje no movimento rock é que eles querem mais curtir que produzir. Eu lembro que a gente  sentava na calçada de casa pra compor  ou até mesmo uma tarde sem fazer nada ficávamos tocando as musicas das bandas que curtíamos pra descontrair. Quantas vezes fizemos isso na casa de Alex, na porta da sua casa (Agamenon) e em vários outros lugares.

Rock em União:Dessas bandas que surgiram nessa época a única que já se apresentou com musicas próprias foi a escrúpulo?

Anderson: Não, quase todas as bandas daquela época tinham músicas autorais, algumas tinham uma ou ou duas músicas, mas acho que só a Escrúpulo Douda tinha as músicas autorais como carro chefe do repertório.

Rock em União:Você hoje ver uma união entre os grupos ou é cada um por si e Deus por todos que só se reúnem pra curtir o momento?

Anderson:Deixa eu analisar cada uma dessa isoladamente. Tem a Dr. Lhama que era interessante, eles estavam fazendo um material interessante mais infelizmente deram uma parada e parece q tão querendo voltar. Mas a maioria das bandas que estão surgindo hoje só querem tocar cover, e eu sempre martelando na ideia de que têm fazer musicas próprias, se vocês quiserem sair daqui tem que ser com musica autoral. A Escrúpulo Douda foi a primeira banda de rock ‘n roll a sair daqui de União dos Palmares se eu não estiver enganado, foi por conta disso agente apareceu na televisão,  entramos no festival de musica do SESC, UFAL, FUCA... fizemos algumas apresentações fora de união e não era porque tocávamos cover não e sim por que as nossas musicas agradavam até porque em um set liste de 15 musicas 2 eram cover e o restante eram musicas autorais. Nós queríamos agradar o publico com as nossas próprias musicas e não com os cover.

Rock em União:A escrúpulo douda ainda existe? Mesmo com alguns integrantes fora ou com outros afazeres?

Anderson: A escrúpulo parou no final de 2012, em novembro do mesmo ano fizemos a ultima apresentação da banda até então. Quando foi no inicio de 2013 Elson saiu da banda por que foi embora pro Rio de Janeiro e também no inicio de 2013 nasceu o meu filho e filho do Thiago e ficou complicado e a gente sempre pensando em arrumar um vocalista pra que a Escrúpulo Douda voltasse a ativa e os afazeres de casa tomando muito tempo também. Mas esse ano estamos com tudo pra voltar e já fizemos até os testes do vocalista e vamos voltar aos ensaios pra que se Deus quiser daqui pro final do ano a gente esteja de cima e faça a volta da ESCRÚPULO DOUDA.

Rock em União:E Como surgiram os convites para tocar em outras cidades?

Anderson:Através das edições do garagem do rock. O movimento já estava sendo bem divulgado lá fora.

Rock em União:E pra fecha qual incentivo ou puxão de orelhas você manda pra essa juventude que está começando agora.

Anderson:O incentivo e o puxão de orelha é o seguinte: ter força de vontade,gravae seu próprio material pra divulgar e não só pensar em grandes eventos, tentar fazer pequenos eventos entre si, mesmo que dê 10 ou 20 pessoas mais que curtam o som. Só lembrando quando eu faço as edições de ensaio aberto é porque não tem dinheiro, é sopra não deixar o movimento morrer, mais lá atrás quando um colega fazia aniversário nós nos juntávamos e organizamos uma festinha com muito rock ‘n roll e tudo feito com simplicidade sem gastar muito. O que eu vejo hoje é essa galera com um estrelismo lá em cima, vamos ser mais humildes e fazer um movimento legal.

1º Reveillon Rock
Adriano Lima - GR6
Blena -GR6
CAF -GR6
Dharma - GR4
CAF - GR1
Escrúpulo Douda - GR1
Escrupulo GR2
Escrúpulo Douda  - GR6
HD Gueto - GR6

Isteria - GR6


Adrenaline - GR7
 GR7

Sinsinhor - GR8

2 comentários:

  1. Porra.. Essas fotos, esses momentos construidos com muito suor, com muita determinação, literalmente vendidos ao clichê "contra tudo e contra todos", me fizeram encher de lágrimas os olhos. Lágrimas de nostalgia como já escrevi outra vez, falando sobre o mesmo tema: o rock and roll em União! Muito bom o blog, estão de parabéns Anderson e Agamenon, antes de tudo por documentar esse micro feixe da cultura palmarina.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. VAleu mesmo waltinho. qualquer material que você tiver e puder nos doar será bem vindo.

      Excluir